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BANALIZAÇÃO DE RITUAIS MEXICANOS PODE DISPARAR GATILHOS EM ENLUTADOS RECENTES

27 de outubro é dia de preparar altar e reencontrar animais que já partiram, segundo tradição mexicana; mas a homenagem tem ressalvas

27/10/25, 11:45

Por Sabrina Pires

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Altar de do dia de los muertos animal / Imagem: IA

Altar de do dia de los muertos animal / Imagem: IA

O México tem uma relação com a morte colorida. E o dia de finados é momento de festa. Pela cultura mexicana, na data (2 de novembro) familiares e amigos que já se foram podem voltar para visitar quem ainda está por aqui. No caso dos animais, há um dia específico: 27 de outubro. Para quem acredita, é nesse dia que cães, gatos, aves que já morreram têm permissão para visitar os antigos cuidadores.


Pela tradição ancestral, nesse dia prepara-se um altar em homenagem aos animais que partiram. Nele, coloca-se petisco, brinquedo ou objeto querido, além de foto, vela, pétalas, uma cruz de sal e água.


Nas redes sociais, há diversas dicas e convites para replicar o costume. Mas a psicóloga Patrícia Vidal, mexicana e especialista em luto pet, avisa que a banalização de um ritual tão tradicional e simbólico pode ter um efeito contrário. “Virou uma coisa meio oba-oba, mas para quem acabou de perder pode ser insuportável fazer esse exercício”, diz ela.


De acordo com Patrícia, no primeiro ano não se indica prestar a homenagem. “Segundo a tradição pré-hispânica, quando as pessoas morrem, elas precisam passar por 7 níveis de desafios até chegar ao lugar de descanso. Então, acredita-se que o falecido ainda está acomodando a ideia de ter morrido e se ajustando à nova condição”, explica. Ou seja, ele ainda está nesse processo e “chamá-lo de volta” atrapalharia a conclusão desse caminho. “Do ponto de vista do processo de luto, às vezes, (tão cedo) aciona gatilhos de dor, de saudade aguda”, indica ela.


Há quem veja dia de finados como mórbido. Mas a cultura de olhar a morte como uma experiência que continua reforça laços. Quando o amor segue vivo, apesar da ausência, cultivar a lembrança aproxima e honra o passado. “É muito bonito! Em geral, é uma grande celebração receber quem partiu!”, descreve Patrícia sobre a festa no país natal.

"Virou uma coisa meio oba-oba, mas para quem acabou de perder pode ser insuportável fazer esse exercício”

Trailer oficial do filme "A vida é uma festa" trata da cultura do dia de los muertos

Postagem da psicóloga mexicana Patrícia Vidal sobre luto / Foto: redes sociais

Postagem da psicóloga mexicana Patrícia Vidal sobre luto / Foto: redes sociais

Acredita-se que 27 de outubro é o dia permitido para a visita dos animais que se foram / Imagem: IA

Acredita-se que 27 de outubro é o dia permitido para a visita dos animais que se foram / Imagem: IA

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