

Animal recebe tratamento veterinário /Imagem: Pexel
Se é inevitável o fim, qual seria a morte que você escolheria para o animal da família? Morte natural, morte por doença, eutanásia? A com menos sofrimento! Chato pensar nisso, mas um dia não vai dar para fugir do tema. E há opções?
Tecnicamente, existem quatro tipos de morte:
EUTANÁSIA: abreviação da vida de forma intencional e provocada;
ORTOTANÁSIA: morte natural sem processos para esticar ou encurtar a vida;
DISTANÁSIA: prolongamento da vida de forma artificial;
MISTANÁSIA: que é morrer miseravelmente, com sofrimento, sem recursos médicos ou assistência.
O que se discute hoje é que entre o que ameaça a vida e a morte propriamente dita há um espaço enorme para atuação. “O fim da cura não é o fim do cuidado”. Essa é uma máxima dos Cuidados Paliativos. E por isso que se fala em qualidade de morte. Para humanos, existe até um ranking que considera fatores como acesso a analgésicos, políticas de cuidados paliativos e a conscientização pública. O Brasil ocupou a 42a. posição nessa lista. A avaliação "preocupa" por causa da baixa qualidade dos tratamentos recebidos pelos pacientes e falta de conhecimento público sobre esses cuidados.
Se para o atendimento às pessoas existem tantos desafios, imagine para os animais que não conseguem falar sobre o que querem, sobre dor, medos e angústias? Mas o assunto tem ganhado musculatura, só que sobram dúvidas.
"A gente foca não só no controle dos sintomas físicos (como a dor), mas também no suporte psicossocial e espiritual para a família e para o paciente”, Gustavo Talauskas, médico-veterinário paliativista
O médico-veterinário paliativista Gustavo Talauskas elucida três pontos que costumam gerar confusão, inclusive entre profissionais da área. Primeiro: senilidade e envelhecimento não são doenças. “Para isso servem os geriatras”, diz ele.
Segundo: dar abraço na família não é cuidado paliativo. “CP é uma abordagem integral para todas as idades (se existir doença ameaçadora da vida), que trata sintomas físicos, psicológicos, espirituais e sociais e tem como princípio aliviar a dor, preservar o conforto, vínculo e dignidade”, explica o especialista. “E paciente e família são vistos como uma “unidade de cuidado”.
E terceiro: ações paliativas são diferentes de Cuidados Paliativos. O que muda é a abrangência. “Uma ação paliativa é uma medida isolada, pontual, em que você faz para aliviar um sintoma, como controlar a dor… O encaminhamento para um homeopata ou fisioterapeuta, por si só, é apenas um acompanhamento multidisciplinar e não caracteriza Cuidados Paliativos”, afirma Talauskas. Já Cuidados Paliativos são uma abordagem completa, multidimensional. “É quando o paciente está sendo acompanhado por um Paliativista ou uma equipe(de CP) para oferecer todo o suporte necessário… A gente foca não só no controle dos sintomas físicos (como a dor), mas também no suporte psicossocial e espiritual para a família e para o paciente”, conclui o veterinário.
Com dor não dá! - Na questão técnica é fundamental o conhecimento aprofundado do manejo de dor. “Alguns dos medicamentos mais utilizados em planos de cuidados paliativos e em fase terminal podem ser menos frequentes na prática clínica geral, visto que a análise de risco-benefício se altera significativamente na fase final da vida. Como a dor não controlada e as dificuldades de mobilidade estão entre as causas mais comuns de eutanásia, compreender esses medicamentos e seu uso adequado pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes em suas últimas semanas”, declara Tyler Carmack, diretora do Hospice Caring Pathways, centro de atendimento veterinário para fim de vida, nos Estados Unidos.
“Conforto ao invés de cura” - Nem sempre tratar é curar, mas sempre há o que fazer para dar qualidade de vida. A partir de condutas com respaldo internacional, há uma mudança de mentalidade para esses casos específicos. “Isso inclui não precisar realizar diagnósticos invasivos, não precisar diagnosticar o problema subjacente e não precisar curar’, afirma Karin Christopher, presidente da Associação Internacional de Cuidados Paliativos e Hospice para Animais.
“O termo cuidados paliativos (ou cuidados no fim da vida) geralmente evoca a ideia de auxiliar os tutores de animais de estimação na decisão de eutanásia e de proporcionar uma morte digna e compassiva para seus pets. Embora oferecer uma experiência de eutanásia tranquila seja fundamental, esse não é o único serviço que os veterinários podem oferecer aos pacientes nessa fase. Os cuidados paliativos veterinários e os cuidados de fim de vida são serviços importantes que podem impactar significativamente a qualidade de vida do animal, o vínculo com sua família e o processo de luto familiar muito tempo depois da morte do pet”, define Christopher.
Série DESPEDIDA ANIMAL no canal do Youtube do "E aí, bicho?" também fala de Cuidados Paliativos





