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NEM TODA RELIGIÃO ACEITA EUTANÁSIA NOS ANIMAIS

Embora permitida por lei em casos específicos, fé pode ser fator contrário à morte provocada.

22/11/25, 00:00

Por Sabrina Pires

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Pessoa em oração / Imagem: Pexel

Pessoa em oração / Imagem: Pexel

Diante de um animal da família com doença ameaçadora da vida há quem pense em eutanásia imediatamente. E enxerga a prática como um alívio da dor. Assunto complexo. Um dos aspectos envolve fé. Como cada religião enxerga a eutanásia?


Representantes de diferentes religiões ouvidos pela reportagem do “E aí, bicho?” analisaram a questão diante da fé, quando o procedimento é tecnicamente recomendável. (Não foi aprofundada a discussão em relação aos animais usados como alimentos.)


Antes da fé, a técnica - De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), a eutanásia, ou término intencional da vida do animal, é permitida quando:

  • casos de doenças graves, incuráveis, que causem sofrimento intenso e sem possibilidade de alívio,

  • há risco à saúde pública

  • animal que é objeto de pesquisa científica ou ensino

  • quando os custos de tratamento são incompatíveis com os recursos do proprietário

  • Causas ambientais, quando a presença do animal representa risco à fauna nativa

Desde 2021, pela lei 14.228, é proibida a eutanásia em cães e gatos de rua por órgãos de zoonose, a não ser que represente de fato uma ameaça.

"É isso que a gente tem que fazer?”, questiona o médico-veterinário paliativista Adriano Baldaia

E a fé? - A religião das pessoas pode barrar o procedimento e influenciar na tomada de decisão. Os questionamentos éticos e morais são frequentes nesses momentos. “Nós somos seres psicobiosocioespirituais. Qual a nossa crença que aquilo vai dar certo? Qual a nossa crença no processo da finitude? Algo muito maior do que há nesse plano? É isso que a gente tem que fazer?”, diz o médico-veterinário paliativista Adriano Baldaia sobre as dúvidas que aparecem em consultório. Segundo ele, essas perguntas norteiam a postura para escolhas mais adequadas individualmente.


No caso da relação humana com os animais, nem sempre regras religiosas são claras ou bem definidas. Ainda assim, avançam na elaboração do que fazer.

Episódio 4 da Série especial "DESPEDIDA ANIMAL" do canal "E aí, bicho?"

Fé impacta na decisão sobre o fim de vida dos animais / Imagem: Pexel

Fé impacta na decisão sobre o fim de vida dos animais / Imagem: Pexel

JUDAÍSMO: sim

“Fazer eutanásia nos seres humanos pelo judaísmo é proibido. Em relação aos animais, eles não têm nenhuma retificação espiritual a fazer, nem purificação. Pelo judaísmo não só é permitido como em muitos casos é o ideal, é o correto. E pra quê? Pra evitar estender o sofrimento do animal. Muita gente depois que ouve essa resposta suspira de alívio. Fica com coração leve e agradece a gente”, afirma Gilberto Ventura rabino da Sinagoga Sem Fronteiras.


ESPIRITISMO: não

“Por mais que eu procurasse nas obras básicas da codificação, na leitura espírita, de modo geral alguma referência específica em relação a eutanásia nos animais eu não encontrei essa informação, mas eu fiz um paralelo, portanto, a leitura é minha. Se para o espírito humano eutanásia é desastrosa, eu estou considerando como grande possibilidade o fato também de ser desastrosa a eutanásia para os animais. Alguns colegas médicos-veterinários aconselham e até cobram do tutor a permissão para fazer a eutanásia dizendo ‘mas é egoísmo da sua parte você querer ficar com o animal que está em sofrimento’ como se houvesse confirmação de que você fazer a eutanásia, ou seja, você matando o corpo físico você libertaria o princípio inteligente daquele animal do sofrimento. Então, nós não temos essa certeza, nós não temos essa informação, então, se não tem essa informação, como é que eu vou me apoiar nela pra fazer uma escolha tão importante?”, questiona a professora e médica-veterinária Irvênia Prada, autora de “A questão espiritual dos animais”.


ISLAMISMO: sim

“A eutanásia animal é permitida na religião islâmica, claro, quem vai dar esse veredito, não são as pessoas que trabalham na área, então, a princípio, é permitido mas quem vai determinar quando, de que forma daí é o especialista, o veterinário”, indica sheik da Liga da Juventude islâmica de São Paulo, Rodrigo Rodrigues.


HINDUÍSMO: não

“A visão hindu é absolutamente contrária à eutanásia. Não cabe a nós, não cabe ao veterinário decidir a hora da morte do animal. Não cabe ao dono decidir a hora da morte dele. A luta do veterinário deve ser pela vida do animal, pela redução do sofrimento do animal, mas não pela morte do animal. Há uma controversa sobre isso dentro do Hinduísmo, mas de uma maneira geral, prevalece essa opinião de que não se deve porque o animal na sua vida natural, por exemplo, quando ele tem um problema de saúde ele não procura a morte, a menos que o coração dele diga que a morte é inevitável e aí ele se recolhe deixa de se alimentar e morre. O animal faz isso. E não só pelos animais, por grandes mestres hindus também. Chega um certo momento da vida, eles se acham inúteis, param de comer e morrem. Parece meio contraditório, mas é uma visão que admite o suicídio mas não admite a eutanásia porque esse suicídio é um suicídio natural”, explica o pesquisador da cultura indiana e professor de ioga Carlos Eduardo Barbosa.


UMBANDA: sim

“Nós acreditamos que o animal, embora diferente da do ser humano, também tem alma e em razão disso é que nós respeitamos tanto os animais, mas há ocasiões que seria muito mais humano, muito mais espiritual cessar a vida desse animal quando ele está sofrendo muito. Eu não sou o contrário a isso. Não posso falar por toda Umbanda. Quem está falando é Babalaô Ronaldo. Eu não sou favorável que se sacrifique o animal, mas há casos em que não há outras alternativas”, diz Babalaô Ronaldo Linares, criador do Santuário Nacional da Umbanda.


CANDOMBLÉ: não

“Nós aqui ainda recorremos aos nossos Orixás para dar tranquilidade para que o animal ainda possa estar conosco. Aqui, por exemplo, a gente faz um benzimento nos animais. Mas, por exemplo, um cachorro, a gente sempre pede a Obaluaê pra que não deixe uma praga, uma doença, algum verme, alguma coisa prejudique o nosso animal. A gente faz até um banho de pipoca que é usado por essa entidade pra que não deixe esse animal ficar doente. Quando a gente tem amor por um bichinho é como se ele fosse um ser humano pra você, então é difícil você dizer `olha vamos consentir a eutanásia` porque é como consentir para um ser humano, não tem como consentir isso”, afirma Karlito de Oxumarê, Babalorixá Dr Ilê Olá omi ase opo arama.


IGREJA EVANGÉLICA: sim

“A Bíblia não tem nenhum dispositivo, nenhum mandato que proíba qualquer tipo de tratamento, seja ele qual for, para que ele tenha vida. E a vida do animal se encerra em si mesma.

A Bíblia dá toda uma direção da eternidade (para os homens), já os animais não. Animal não tem alma animal, tem sentimento, compartilha com você, então, de forma objetiva a gente faz isso acompanhando toda a direção da ciência”, explica Tércio Sá Freira, pastor Rede Evangélica Nacional da Ação Social.


BUDISMO: sim

“Tem muita gente que vê o animalzinho sofrendo e não se esforça e caminha pra eutanásia. Isso não está adequado. Como uma solução fácil e prática: isso não é adequado, você tem que tentar de tudo pra salvar aquele ser vivo. Quando você percebe que ele tá numa roda de grande sofrimento, o coração de compaixão acaba optando por isso (eutanásia). Mas só numa situação extremamente em que o animalzinho tá sofrendo… Então, rezar para que ela faça uma passagem, libertá-la dessa condição”, informa Monja Heishin Gandra, zen budista / Soto Zen Japão.


XAMANISMO: não

“Dentro da visão xamânica pode até ser que haja discordâncias. Dentro da visão indígena também, mas em geral, a vida deve ser preservada no tempo que Nhanderu, o grande espírito, a mãe terra, quer. Então, não podemos interferir deste modo. A pessoa pode falar: `ah, ele está sofrendo!’ Sim, mas o sofrimento faz parte da evolução, a dor faz parte da evolução, a gente acredita que o animal tem sentimento, a gente acredita que o vegetal também tem sentimento, então, nós sabemos que ali tem uma vida e nós não podemos encerrar aquela vida antes do tempo. Quem vai definir é Nhanderu, a mãe Terra. Tem dor? Tem sofrimento? Tem. Como também tem em vida que sem ser próximo à morte. Então, em tudo há o aprendizado, aquilo é importante pra evolução.

O que a pessoa pode fazer? Orar, rezar, colocar as mãos sobre aquele animal que está pra morrer, para que possa fazer uma passagem de uma forma que ele sofra menos, mas jamais podemos interferir naquilo que Nhanderu, a mãe terra e o pai céu definem conforme a consciência deles. A natureza tem uma sabedoria gigante, muito maior que a nossa, então, não é a gente que vai interferir nela. Nós temos que aprender e se integrar dentro da harmonia que ela nos traz”, conta Emerson Pantaleo, representante do Xamanismo no Fórum Inter-religioso de São Paulo.


IGREJA CATÓLICA: sim

“Para Igreja Católica, os animais são criaturas de Deus, devem ser cuidados, entretanto, não possuem alma, por esse fato a igreja não se opõe a utilização da carne de animais para alimentação, exceto em casos de prescrição penitencial. Então, por isso o sacrifício de animais em si não é um problema. A eutanásia dos animais, então, não se torna proibida. Vale lembrar que devemos cuidar desses animais nesse momento porque também fazem parte das criaturas de Deus”, diz Frei Gabriel Dellandrea da igreja São Francisco de Assis / SP.

Conexão com animais e fé mexem com decis�ões de responsáveis

Conexão com animais e fé mexem com decisões de responsáveis

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