

"Espero encontrar todos os meus queridos chimpanzés mortos e amigos cachorros em algum lugar quando eu morrer”, Jane Goodall
E além de fazer, também resolveu falar. Foi uma espécie de “mensageira da esperança”, e até o último momento lotava plateias ao redor do mundo, a maioria com jovens. O assunto? Como agir diante de um mundo caótico com mudanças climáticas e eventos extremos. Sucesso absoluto. No Instagram, são mais de 1,7 milhões de seguidores. Virou boneca da Barbie e personagem do Simpsons. Foi nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas e Dama do Império Britânico, entre outras honrarias globais.
Entre uma viagem e outra, monitorava as ações do Instituto Jane Goodall (para proteção dos chimpanzés) e programas como o Roots & Shoots (Raízes e Rebentos), para jovens do mundo todo colocarem a mão na massa pela preservação da natureza.
Aos 91 anos, Jane Goodall não perdia a esperança e parecia incansável. Corria o mundo em palestras, lançamento de livros e entrevistas. Dizia que a próxima grande aventura seria a morte. "Quando morremos, ou não existe nada, e nesse caso tudo bem, ou existe algo. Se existir algo, hipótese em que acredito, qual aventura pode ser maior do que a de descobrir o que é?", respondeu ao ser questionada durante uma palestra. Nesta quarta-feira, 1 de outubro, Jane se encontrou a resposta. Ela morreu na Califórnia, Estados Unidos, por causas naturais. Estava no país a trabalho, onde participava de uma série de eventos.
Referência como figura feminina e cientista, Jane Goodall mudou a ciência. Aos 26 anos de idade, passou meses no Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia. O trabalho era observar chimpanzés. O que viu foi uma espécie com caraterísticas muito próximas aos humanos: com relações sociais complexas, emoções e personalidades bastante definidas. Passou a nomeá-los e foi duramente criticada pela Academia. Ouviu que para ser uma boa cientista era preciso numerá-los, e não ter empatia com o “objeto de pesquisa”. “Eu tive um grande professor quando era criança que havia me ensinado que o que esses professores estavam dizendo era uma besteira absoluta. E esse professor, muito de vocês tiveram, foi meu cachorro Rusty”, lembrava, “gradualmente, a ciência passou a aceitar que somos parte, e não separados, do restante do reino animal”.
Mas a revolução na ciência era só o começo. A primatologista criou santuários na África e projetos de redução da pobreza local. Tinha entendido que sem estender a mão aos humanos, não há como proteger a vida dos bichos.
E aí, bicho? entrevistou Jane Goodall quando primatologista esteve no Brasil em 2023
E ainda encontrava tempo para escrever diversos livros. O último, “Esperança”, a trouxe ao Brasil, em outubro de 2023, quando concedeu entrevista ao “E aí, bicho?”. “Nós somos capazes de salvar o planeta. Podemos fazer a diferença todos os dias, milhões de escolhas éticas individuais em nosso comportamento nos levarão na direção de um mundo mais sustentável”, dizia Goodall.
A senhora inglesa de fala mansa era daquelas figuras que alcançam o Olimpo dos que fazem a diferença para a humanidade como Mahatma Gandhi e Madre Tereza de Calcutá. E a receita de Jane Goodall está no simples e possível: “Volte para seu bairro, ache alguns amigos para trabalhar com você, e vai descobrir que já está fazendo a diferença e isso te inspira a fazer mais e, também inspira mais gente a se juntar a você”, declarou Jane. Ela se foi, mas o enorme legado fica.
Na entrevista quando esteve no Brasil, falou sobre a morte com sorriso no rosto: "espero encontrar todos os meus queridos chimpanzés mortos e amigos cachorros em algum lugar quando eu morrer”. Até sobre finitude ela dava aula de postura.

Foto: Michael Neugebauer / arquivo JGI

Jane Goodall durante entrevista ao "E aí, bicho?"

Jane Goodall com jovens. Foto: Robert Ratzer / JGI





