top of page

MEDO DE TER SIDO A ÚLTIMA VEZ QUE O VI COM VIDA

Morte de animais domésticos como de pioloto Lewis Hamilton mostra que dor é real

29/09/25

Sabrina Pires

Lewis Hamilton com Roscoe / Foto: reprodução redes sociais

Escrevo da sala de espera do hospital veterinário. Nino, um lindo e grisalho vira-lata, está lá dentro. Acaba de ser internado e passará por uma cirurgia. Há um mês começou a mancar. Os exames mostraram uma mancha que todos os profissionais que viram disseram: “muito possivelmente câncer”. A solução? Muito possivelmente, amputação.


Estudo luto animal há 10 anos. E falar de morte me fez ter pressa para viver. Viver feliz. E pra isso, tive que refletir sobre o que me faz feliz de verdade. Desejos. Sonhos. Companhias (tipo o Nino). Lembrar que o nosso tempo por aqui é limitado ajuda a moldar decisões. Mas quando a finitude se esfrega descarada na sua cara, a coisa é diferente da retórica! É a hora do vamos-ver. Porque aí você olha para a ausência. As lágrimas escorrem. A moça ao meu lado diz: “eu sou sensitiva, sinto sua angústia, ele vai ficar bem”. Me oferece uma água. Acho gentil quem busca acolher um estranho. Me acalmo e saio.


No carro, penso nesses últimos momentos com o Nino. Que professor! Ele com dor, com dificuldade para andar, com fome e sede (por causa do jejum da operação) me ensina o que é viver o presente de verdade. Encontrou traseiros interessantes? “Opa, bora interagir”. Minutos antes de entrar na faca, ele só quis brincar. E também olhar pra minha cara com olhos do gato-de-botas. Valei-me! Queria garantir para ele que vai dar tudo certo como disse a moça.


No caminho de volta, soube da notícia que o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton perdeu Roscoe, um buldogue inglês que estava em coma havia dias. Hamilton sempre aparecia com ele nas corridas e eventos e fazia questão de mostrar o vínculo profundo que tinha entre eles. A dor da perda é real. O vazio é gigante. Assim como o medo de ter visto meu Nino vivo pela última vez, nesta tarde.


Entrar em casa sem ele, sem a coleira, ver os potinhos… machuca. Mas hoje ainda posso contar que ele voltará, sem uma pata, mas voltará. E que aproveitar a presença enquanto temos a oportunidade é o maior presente possível. E vale para tudo.

Jornalista apaixonada por animais e natureza e criadora do "E aí, bicho?", espaço jornalístico que trata das relações entre bichos e humanos. 

bottom of page