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O QUE APRENDO DIANTE DA FINITUDE DE NINO, MEU CACHORRO "GEORGE CLOONEY"?

Relato publicado inicialmente nas redes sociais como desabafo gera reflexão em leitores

25/10/25

Por Sabrina Pires

Nino consegue olhar a janela pela primeira vez após cirurgia de amputação / Foto: arquivo pessoal

Um ano. Essa é a expectativa de vida para o Nino, se tudo correr bem. A médica veterinária explica que para chegar lá ele deve fazer o tratamento de quimioterapia. É uma espécie de “preventivo” para atacar eventuais células cancerígenas que podem estar circulando pelo corpo, após a amputação da pata.


Sabemos que a morte é certa, mas não contamos que ela dê as caras de fato. E o que fazer? Buscar tratamento e prolongar essa convivência, ou deixar a vida e a natureza agirem? É uma dúvida legítima. Porque parece que o sofrimento virá de um jeito ou de outro. Então, sofremos agora com a esperança de dias melhores, ou embarrigamos, e sofremos depois? Quando falo sofrimento não é exatamente dor, mas qualidade de vida lá pelas canelas. Amo cuidados paliativos: cuidar sem mirar a cura. Mas ninguém venha me dizer que é fácil.


Nino é um vira-lata preto com os pelinhos já brancos no rosto. Meu George Clooney canino. Charmosão. Saímos da médica e no carro ele sorri. Depois de quase um mês sem uma das patas da frente por causa de um tumor ósseo, ele aproveita o vento no focinho. Finalmente consegue sentar e olhar pela janela como sempre fez. Ele curte. Eu também. Mas penso: “quantas vezes mais contemplarei essa cena que me traz paz e segurança?”.


Quando alguém estima um prazo o relógio parece começar a registrar o tempo de forma regressiva. “Menos um minuto!”. E me dá uma certa palpitação como se tentasse segurar a vida. Só que -novidade! - ela escapa, corre, não para.


Sempre aprendo com os animais com quem tenho a honra de dividir a existência. E dessa vez, observo com olhar de aluna. “O que posso aprender aqui? Como aproveitar esses momentos juntos? Como driblar a tristeza da despedida certa e dar lugar ao máximo de aproveitamento da companhia? E se o prazo de um ano fosse pra mim? Como eu iria querer usufruir desse período?”. 


Essas criaturas de quatro patas (ops, três) são mesmo tremendos professores.

Jornalista apaixonada por animais e natureza e criadora do "E aí, bicho?", espaço jornalístico que trata das relações entre bichos e humanos. 

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