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RINHA DE GALO AFETA MEU FILHO?

Falar para quem pratica rinha respeitar animal parece ser discurso sem efeito. Mas tem um jeito diferente e foi isso o que aconteceu na Bahia

29/07/21

Por: Robis Nassaro

Galos são obrigados a brigar em rinhas - fora da lei

Fui policial militar por 31 anos e boa parte deste tempo trabalhei na Polícia Ambiental paulista. É natural que durante esses anos todos diversas ocorrências tenham feito parte da minha vida profissional: tráfico de animais silvestres, desmatamentos, combate aos palmiteiros, grileiros, garimpeiros, pescadores ilegais, maus-tratos a cães, gatos, cavalos e, também, a galos em rinhas, dentre outros. Essas são as ocorrências mais comuns em que um policial ambiental costuma atuar.


Nesse tempo todo, sempre fui crítico à lei penal ambiental brasileira, e ainda sou. Os maus-tratos aos animais e à natureza parecem compensar diante da pena irrisória que os criminosos se sujeitam. Para o dia a dia do policial ambiental, na prática, ocorre o famoso “enxugar gelo”.


Mas na semana passada me surpreendi por uma experiência inédita. Fui convidado pelo Ministério Público da Bahia e pela ONG Animallia para palestrar para um grupo de 40 infratores flagrados recentemente em prática de rinha no interior da Bahia, em uma enorme operação policial que teve muita repercussão na imprensa. Vocês aceitariam? Eu topei!


Topei porque eu poderia acrescentar na vida dessas pessoas, a maioria de origem muito simples e, pelo que percebi, com pouca ou nenhuma instrução formal, algumas informações sobre a Teoria do Link, algo que venho estudando há muito tempo.

Um dos alunos me perguntou: “A vaquejada não é crime também? Por que uma se pratica (vaquejada) e o outra não pode (rinha)?” Percebam como é difícil explicar nossas leis? Como é complicado entender os diversos temas a vida no Brasil?


É por isso que minha abordagem utiliza a conexão - cada vez mais pesquisada - que relaciona a violência contra animais às pessoas. Por essa teoria, nascida nos Estados Unidos, quanto mais ensinamos crueldade animal aos nossos filhos (seja ao cometer, ignorar ou incentivar (como nas rinhas), maior é a tendência de que eles passem a ser cruéis com animais e ultrapassem a barreira animal e atinja as pessoas.

Sabe-se que muitos dos criminosos seriais (serial killers) começaram com agressões aos animais, por terem aprendido com os pais, normalmente usuários de drogas, álcool em uma família degradada. Nessas casas, a violência doméstica é comum e as vítimas são sempre mulheres e filhos e os animais de estimação.


Cães e gatos maltratados costumam ser uma “bandeira vermelha”, ou seja, um alerta de que há violência nessa residência e que é necessário agir para evitar um mal maior.

Confesso, fiz essa abordagem. Mostrei aos infratores o que eles estavam ensinando aos filhos com a rinha e foi uma experiência surpreendente. Eles puderam ver que alguém bem próximo, como mulher, filhos, noras e animais domésticos poderiam ser vítimas de pessoas cuja violência foi aprendida em casa, pelo pai em rinhas de galo e outras formas de crueldade animal. Não é uma abordagem diferente?


De fato, pelo que percebi, é que a maioria compreende os animais como um bem a usufruir, seja para vender, abater ou mesmo apostar e isso vem das formações que receberam, do que aprenderam em casa com os pais, então, simplesmente falar para eles que seus animais devem ser bem tratados, parece ser um discurso que não tende a surtir efeito, apesar de muito importante.


Por isso me empolguei a mudar a abordagem que normalmente se faz quando se explica que rinha é crime. É muito mais que isso, é uma forma de criar e ampliar a violência na própria família.


Acho que essa nova visão pode gerar bons resultados. Percebi que houve muita reflexão dos alunos. Sinto que é um caminho que vale a pena!


Contribui do meu jeito e agradeço ao convite. Penso, que independentemente da pena que esses infratores receberam da Justiça, um curso como esse foi a melhor de todas as iniciativas. Que outros Estados também possam replicar essa medida!

Parabéns ao Ministério Público da Bahia e ONG Animallia e muito obrigado pela oportunidade!


Robis Nassaro

Doutor em Ciências Policiais e pesquisador da Teoria do Link.

Escreve, com muito orgulho, uma coluna mensal para o “E aí, bicho?”

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