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TRANSFERIMOS NOSSAS VERGONHAS PARA OS PETS?

De tapa-sexo em fotos à decisão de não castrá-los: conceitos humanos usados para animais domésticos são saudáveis? 

07/08/22

Patrícia Vidal

Reprodução: internet / Imagens nas redes mostram como transferimos conceitos humanos para pets

Hoje mesmo vi o desenho de uma florzinha no traseiro do gato em um vídeo na internet. Tenho pensado em como os tutores lidam com a sexualidade e funções corporais de seus pets.


Quando vejo tutores recolhendo os cocôs de seus cães com naturalidade na rua, me pergunto se sempre foi assim. Jackson Galaxy, o “encantador de gatos”, atendeu uma mulher que se queixava do marido por ter asco intratável de limpar as fezes do gato. Ela se sentia sobrecarregada. Galaxy apresentou um spray congelador de dejetos para tornar mais agradável a limpeza da caixa de areia. Funcionou. O conflito conjugal foi resolvido.


Quando os tutores são anfitriões, parece haver uma tolerância, meio sem graça, com o pet que faz a toilette na frente das visitas. Gateiros brincam que o peludo está tocando violoncelo. Cachorreiros se desculpam pela falta de modos do totó que se deita de barriga para cima, deixando as partes íntimas em evidência. No entanto, quando o cão fica excitado, parece que ninguém viu nada!


Para preservar os bons costumes, há acessórios para tapar a região anal dos gatos. Trata-se de um anel com uma tampinha, que se encaixa no rabo do bichano (como fica no lugar, é um mistério). Imagino que tutores com tal preocupação (fixação?) devam ser atormentados por trauma infantil na fase de igual nome.


Ao contrário de ocultar, existem próteses de escrotos para cães castrados. O marketing do produto alardeia que o intuito é preservar a autoestima do cachorro despossuído. A propósito, é com alguma frequência que o tema da castração dos machos - nunca das fêmeas, que curioso! - traz mal-estar e resistência especialmente por parte de tutores homens. A identificação humana com o animal de estimação é um processo inconsciente, sabemos. Não seria benéfico refletir com mais racionalidade sobre isso, em favor da qualidade de vida e segurança do animal?


Uma tutora perdeu seu cão de grande porte, machucado fatalmente, ao tentar escapar para acasalar com a cadela que teve seu primeiro cio antes do esperado. O marido da tutora estava em viagem. Ela enfrentou a fúria dos hormônios caninos sozinha. Procurou a terapia para processar o ocorrido.


Há uma corrente na medicina veterinária que prega a manutenção do aparelho reprodutor ‘inteiro’, por respeito à natureza do animal. De fato, às vezes me pego pensando como os gatos que conheço foram afetados pela privação da sexualidade e procriação. Será que gostariam de ter sido mães, pais? Sentem falta de transar? O que mudou para eles, além do ganho de peso e da aparente maior tranquilidade?


Uma veterinária adotou um gato não-castrado recentemente. Ele tem demarcado a casa toda, sem trégua. Por esse motivo, a castração foi indicada. Ela se esquiva à ideia. O que pode estar por trás dessa resistência? – penso. Vou investigar na próxima sessão!

Patrícia Vidal

Psicóloga, especializada em vínculos e luto por perda de animais domésticos, e apaixonada por gatos

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