Imagem: reprodução capa Ong Ampara Animal
“Isso pode levar a adoções irresponsáveis e aumentar o abandono”, Carla Sassi, coordenadora GRAD
Polêmica – Para quem tem experiência em promover processos de adoção, a ideia de fazer um repasse financeiro causou preocupação pelo alto risco de abandono futuro.
A proposta recebeu críticas de diferentes defensores da causa. Um deles é o GRAD, Grupo de Resposta a Animais em Desastres. A equipe participou ativamente das ações de resgates no Rio Grande de Sul, a ponto de fazer uma parceria oficial com o governo. Mas, pelas redes sociais, a coordenadora Carla Sassi mostrou receio com possíveis consequências. “Isso pode levar a adoções irresponsáveis e aumentar o abandono”. Ela afirma que questionou o poder público, mas sem respostas até o momento. “Qual o perfil dos adotantes, quem irá fiscalizar as adoções, de onde será retirado esse recurso?”, pergunta.
Em uma contraproposta, o GRAD oficiou o Estado para que os profissionais técnicos da área fossem convidados para um debate para montar uma política pública alinhada às ongs para os animais que ainda permanecem nos abrigos.
Entre instituições reconhecidas e protetores independentes é comum a cobrança de taxa de adoção. Em geral, um valor simbólico que ajuda a avaliar o compromisso e as condições financeiras para cuidar do animal do adotante. “A partir do momento que a pessoa fala que não pode pagar uma taxa de adoção isso quer dizer muito. A vacina é R$ 100,00, por exemplo. Ela não querer doar essa taxa para protetores e ongs, pode ser que ela também não queira vacinar. E isso se torna um problema de zoonoses, questões de saúde pública”, afirma Raquel Facuri, co-fundadora da Ampara Animal, ong que completa 14 anos em 2024 e já intermediou cerca de 10 mil adoções.
Então, pagar para quem já está em dificuldades financeiras poderia representar um alto risco de devolução ou abandono. O que resultaria em mais sofrimento ao animal.
“A gente vê isso como um problema. A pessoa pode adotar com o ímpeto de receber esse dinheiro e passados seis meses, abandona esse animal na rua”, diz Raquel, “são animais que já sofreram muito, já perderam família, e não escolheram estar naquelas condições, então, prejudicá-los mais do que já foram prejudicados não é a melhor conduta”.
A Ampara Animal, ao lado de diversas instituições do país, colabora com o trabalho no Rio Grande do Sul. Enviou uma equipe de castração em convênio com a Prefeitura de São Paulo para a região de Porto Alegre, e organizou voluntários para os abrigos. Faz também o processo para adoções dos resgatados nas enchentes. Quando dá certo, traz o animal escolhido por ônibus para o tutor.
“A gente não está desovando animais. A gente tem sim que ter muito carinho o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, os animais estão em correntes, em espaços bem pequenos, e até por isso a gente tá tendo um trabalho de adoção”, diz Raquel, “mas temos que pensar em ações, planejamento que regularize essa questão, para que não deixem os animais em sofrimento”.
Como adotar – A escolha é feita através do site. Os animais disponíveis já foram vacinados, microchipados, vermifugados e estão em boas condições de saúde estão no site adoters.org.br
Pelas fotos dá para saber o perfil e um pouco do histórico do cachorro ou gato escolhido.
“Todos os momentos de crise e catástrofes as pessoas se sensibilizam muito. A preocupação maior é como vão ficar esses animais agora que a crise passou”, conclui Raquel.
A campanha lançada nesta segunda, 24 de junho, pelo governo do Rio Grande do Sul foi alvo de críticas de parceiros do próprio Estado. A proposta é oferecer um valor de R$ 450,00 para cada animal que for adotado – no máximo dois por pessoa.
O valor deve ser repassado em duas parcelas: no momento da adoção e depois de três meses.
Pelos dados oficiais, são 15.259 cães e gatos abrigados em 353 de locais do estado, principalmente em Canoas e Porto Alegre. A maioria sobrevivente das enchentes de maio.
O governador Eduardo Leite defendeu a ideia: “Queremos que todos esses animais tenham um lar, mas sabemos que muitos não conseguem dar os cuidados iniciais."
O projeto de lei ainda precisa ser aprovado na Assembleia Legislativa e prevê investimento de R$6,86 milhões.
O projeto, que prevê investimento de R$ 6,86 milhões, deve ser encaminhado ainda esta semana para a Assembleia - Foto: Jurgen Mayrhofer/Ascom SSPS
O projeto, que prevê investimento de R$ 6,86 milhões, deve ser encaminhado ainda esta semana para a Assembleia - Foto: Jurgen Mayrhofer/Ascom SSPS