


Ursinha Nur / Imagem: Aquário de SP
“Um programa que não tenha essa meta (reintrodução à natureza) é prisão, é um falso verniz de interesse cientifico” - biólogo Frank Alarcon
Outro lado - O Aquário afirma que sem condições de estar inserido na vida selvagem, o nascimento de um filhote é um sinal de bem-estar e que os ursos polares estão confortáveis.
“O recinto de 1500 m2 representa um oitavo de um campo de futebol para mamíferos gigantes e carnívoros passarem a vida inteira. Eles normalmente viveriam em áreas gigantescas com centenas de milhares de quilômetros em ambiente natural”, contesta o biólogo.
Pela lei brasileira, um casal de ursos polares precisa ter, no mínimo, 300m2 de espaço.
Justificariam Zoológicos Humanos? - Alarcon provoca e pede reflexão: “Para defender um povo indígena isolado que está ameaçado você defenderia capturar esses indivíduos, promover e patrocinar sua reprodução para que sejam protegidas, mantidas e perpetuadas sua língua, suas características éticos e anatômicas? Você faria isso?”
O “E aí, bicho?” esteve no Aquário de São Paulo para levantar essa discussão, anos atrás. (Veja vídeo abaixo)
Na natureza, estima-se uma população de cerca de 26 mil ursos polares. A espécie está vulnerável à extinção. O declínio da população no Canadá tem sido associado ao aquecimento do planeta.
Com as primeiras imagens pelas redes sociais, há um consenso: ela é uma graça e aguça a curiosidade. E de fato o Aquário já se prepara para o aumento de visitantes. A expectativa é receber até quatro mil pessoas por dia.
Atualmente, o ingresso para visitar o Aquário custa R$ 120 reais para um adulto. Para criança, R$ 90.
O Áquário de São Paulo abriu pela primeira vez ao público a possibilidade de ver a mais nova atração: a ursinha Nur, a filhote brasileira de urso polar que nasceu em novembro de 2024. Antes de aparecer aos visitantes, passou 102 dias isolada em uma toca com a mãe. Ela é filha do casal Aurora e Peregrino, que há uma década moram no local.
O nascimento em cativeiro da ursa-polar acende um debate que não é novo. Defensores da causa animal criticam o confinamento em ambientes de entretenimento ao custo da liberdade dos bichos. E mais: sem a perspectiva de reintrodução na natureza.
O Aquário defende que esse é um programa de conservação da espécie e que ajuda na educação e na conscientização do público para preservar o meio ambiente.
O biólogo e ativista da causa animal há mais 30 anos Frank Alarcon rebate e afirma que essa é uma situação eticamente controversa e imoral. “Não se engane, é um programa de reprodução de animais para exibição mediante pagamento, e não de conservação… eles são normalmente peça de troca tipo `eu te dou um urso você me dá uma girafa’.”
Existem basicamente dois tipos de programas de conservação de espécie. No habitat natural da espécie em áreas de preservação, por exemplo, ou em cativeiro, em um ambiente artificial. Neste último caso, o objetivo final é reintrodução à natureza. “Um programa que não tenha essa meta é prisão”, fala Alarcon, “é um falso verniz de interesse cientifico”.
Polêmica antiga - Os pais de Nur vieram da Rússia. Grupos de proteção animal chegaram a fazer protestos em frente ao Aquário para evitar que as pessoas financiassem o espaço. O argumento é que o interesse em manter esses animais em cativeiro tem a ver com exploração comercial. “Você olha alguns segundos, e o animal fica lá a vida inteira”, reforça Alarcon.