Baleia enroscada em rede de pesca: situação leva animais à morte. Imagem: VIVA Instituto Verde Azul
O mês de agosto começou com cenas repetidas de baleias-jubartes mortas no litoral paulista. Duas, inclusive, no mesmo dia, na quinta (5). Moradores de Santos e Guarujá encontraram os animais nas praias.
O aparecimento de baleias muitas vezes já em decomposição na costa brasileira chama a atenção dos pesquisadores. Até julho deste ano, só no Estado de São Paulo foram 21. No país, 90. Os dados são do Instituto Baleia Jubarte. Este é o maior número registrado nos primeiros sete meses de um ano desde 2015, início das medições.
Nesses seis anos, os pesquisadores também apontam para o aumento da população em águas brasileiras. Entre abril e setembro é comum a migração da espécie que foge do frio das regiões polares e vem para a nossa costa se reproduzir.
“Estudos estimam que a população brasileira de baleia-jubarte original continha cerca de 30 mil baleias, quando a caça foi proibida no Brasil, em 1987, era menos de 1000 baleias. Ao longo desses 34 anos de proteção, essa população está se recuperando e hoje estima-se que cerca de 20 mil baleias estão frequentando antigas áreas de ocupação, como a região de Ilhabela e São Sebastião”, diz Mia Morete, bióloga do VIVA Instituto Verde Azul ao E aí, bicho?.
"Sugerimos que se aumente a região descrita como área reprodutiva de baleia-jubarte no litoral brasileiro como o litoral norte de São Paulo, por exemplo”, afirma Mia Morete, do VIVA Instituto Verde Azul.
O QUE MATA? - Elas morrem mais por que estão em maior número ou por que, de fato, há ameaças? Para saber a causa da morte de uma baleia é preciso realizar uma necropsia.
Mas os cientistas já listaram as principais ameaças atuais. Entre as mais comuns estão:
captura acidental,
sobrepesca,
interação com lixo,
poluição química e sonora,
turismo desordenado e
consequências das alterações climáticas.
É possível determinar o motivo da morte sem investigações mais detalhadas em laboratório quando há marcas externas evidentes de atropelamento ou emalhamento (captura acidental em redes de pesca), quando as redes e petrechos ficam grudados ao corpo do animal.
QUESTÃO INTERNACIONAL - Não são apenas baleias que sofrem com o “bycatch” (termo em inglês para captura acidental). Essa é uma grande ameaça aos mamíferos aquáticos no mundo. Segundo a Comissão Internacional Baleeira, 300 mil baleias e golfinhos morrem anualmente com interações com petrechos de pesca.
Outro aspecto destacado pelos pesquisadores sobre a morte das baleias no Brasil tem a ver com a idade dos animais mortos - a maioria jovens. “Os filhotes de jubarte ficam com suas mães por cerca de um ano, quando já ocorre o desmame e aparentemente precisam se virar sozinhos”, explica Mia.
Vídeo Equipe VIVA em 2021
SOLUÇÃO - Ambientalistas e pesquisadores pedem ações coordenadas para evitar a morte dos animais nas interações com humanos. Pedem mais fiscalização, por exemplo, com redes de espera que são deixadas em locais proibidos e que capturam todo tipo de animal marinho - a maior parte não é alvo da pesca. “Redes de espera assistidas já existem aqui em Ilhabela. O pescador fica ali junto, se algum animal se aproxima, ele tem como resolver a situação de forma imediata”, afirma Marina Leite, bióloga do VIVA Instituto Verde Azul. E o poder público também tem como participar além da fiscalização. “Estamos discutindo algumas saídas: será que pensar em época de defeso, alguns meses que tem ocorrência maior de baleia-jubarte, esses pescadores poderiam não pescar e receber algum recurso do governo para viver?”, questiona ela.
Outra medida é a ampliação da área de proteção: “sugerimos que se aumente a região descrita como área reprodutiva de baleia-jubarte no litoral brasileiro como o litoral norte de São Paulo”, afirma Mia. O VIVA Instituto Verde Azul iniciou em 2019 estudo a partir de um ponto fixo em Ilhabela para pesquisar o comportamento das jubartes no local. “Foi uma enorme surpresa a quantidade de baleias observadas e constatar que elas passavam muito próximas a costeira! E além das jubartes, observamos outras 10 espécies de cetáceos na região, esse número é fantástico, já que no mundo inteiro são registradas 90 espécies!”, conclui ela.
Gráfico do Projeto Baleia Jubarte aponta aumento de registro de morte de baleias nos primeiros meses de 2021
Outros animais também são vítimas. Imagem: VIVA Instituto Verde Azul
Especialistas recolhem baleia morta em praia de SP. Imagem: redes sociais do Instituto Gremar