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FASCÍNIO DE AUTISTA POR ANIMAIS PODE AJUDAR COM INTERAÇÕES SOCIAIS

Séries de streaming “Uma Advogada Extraordinária” e “Atypical” mostram interesse de personagens retratados com TEA; 2 de abril é o dia Mundial de Conscientização sobre Autismo

02/04/23 15:00

Sabrina Pires

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Reprodução: jovem associa novas ideias com baleias na série "Uma Advogada Extraordinária", da Netflix

Reprodução: jovem associa novas ideias com baleias na série "Uma Advogada Extraordinária", da Netflix

“O boto-do-índico tem um focinho largo e pequenas saliências nas costas. Ele é fofo porque parece estar sempre sorrindo”. A fala é da advogada Young Woo (Park Eun-bin), a protagonista da série da Netflix “Uma Advogada Extraordinária”. Na trama, a jovem autista é contratada por um grande escritório de advocacia. Ela é inteligente com uma memória fora do normal, mas tem dificuldade nas interações sociais. E sabe tudo e sempre fala sobre… baleias ou golfinhos. É uma paixão.


A série sul-coreana é um sucesso, e deve até ganhar nova versão nos Estados Unidos. O fascínio da personagem autista pelos cetáceos marca todos os episódios. Muitas vezes é através do conhecimento profundo que tem dos animais que a garota faz paralelos com a vida dela. Por exemplo, a ausência da mãe:


“A maneira mais conhecida de matar baleias é matar o bebê. Jogam um arpão no bebê, que é fraco, e enquanto ele está nadando com dor, a mãe nunca sai do lado dele. Ela não abandona o bebê que está sofrendo. É nesse momento que o segundo arpão é lançado, e a mãe é o alvo principal. Baleias são inteligentes. Ela deve saber que também será morta se não abandonar o bebê. Mas não abandona. Se eu fosse uma baleia, minha mãe teria ficado comigo?”



"Não é questão de superdotação ou QI elevado, existe também, mas a maioria dos casos a gente chama isso de hiper-foco, então é como uma obsessão por esse assunto", Thainara Morales

A paixão profunda por animais também aparece na série “Atypical”, também a Netflix. O personagem autista, Sam, conhece profundamente os pinguins. Ele tem nos bichos um refúgio, uma conexão. Em uma das cenas, ele foge para um observatório de pinguins para se acalmar.


“Cada autista é único. E cada um tem seu hiper-foco. Não é questão de superdotação ou QI elevado, existe também, mas a maioria dos casos a gente chama isso de hiper-foco, então é como uma obsessão por esse assunto e ele vai se aprofundar ao máximo sobre aquilo”, explica a psicopedagoga e mestre em neurociência Thainara Morales. Segundo ela, nem todos diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista) vão ter hiper-foco. Entre aqueles têm, grande parte se interessa pelos animais. “O que a gente mais vê é hiper-foco de répteis, dinossauros… por isso que a gente aproveita para entrar com a pet terapia, com cachorros e gatos, para a gente ensinar outros comportamentos, como se portar dentro da escola, por exemplo”, afirma Thainara. É o reforçador: usar um tema de interesse prévio para auxiliar no aprendizado ainda não absorvido.



Reprodução: na série "Atypical", personagem autista é apaixonado por pinguins

Reprodução: na série "Atypical", personagem autista é apaixonado por pinguins

Hoje, 2 de abril, é o dia Mundial da Conscientização sobre Autismo. A data serve para espalhar informação para que a sociedade lide de forma respeitosa com quem tem o transtorno, independentemente do grau de suporte necessário. Crachá, fita e o quebra-cabeça coloridos sinalizam que a pessoa está enquadrada no TEA. Isso significa que ela pode ter dificuldade de interação social, não trocar olhares, apresentar estereotipias (ações repetitivas como balançar o corpo), e falar muito de um assunto bem restrito no qual podemos aprender… como se passa na série “Uma Advogada Extraordinária”.


De tanto que a jovem fala de baleia, o colega de trabalho pergunta: “Você já viu uma baleia pessoalmente?” Não, responde ela. “Sério? Nunca foi a um aquário?”, questiona o moço. Indignada, ela diz: “Aquários são como prisões para baleias. Como se fossem escravos num tanque pequeno, comendo só peixe congelado e fazendo shows o ano todo. Golfinhos que vivem em média 40 anos, sobrevivem 4 anos em um aquário. Tem ideia da dimensão do estresse?”. E o colega se desculpa: “eu não sabia”. Infelizmente, muita gente ainda não sabe da realidade sobre as baleias e golfinhos presos em aquários, e nem como lidar com autistas. Sempre é hora!

Reprodução: Fita de quebra-cabeça colorido um dos símbolos do autismo

Reprodução: Fita de quebra-cabeça colorido um dos símbolos do autismo

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